Quadros de pressão alta que não são tratados adequadamente podem levar a demências, à cegueira e até mesmo falência renal
Reconhecida como inimiga do coração, a hipertensão é um perigo também para outras áreas do organismo altamente vascularizadas, como cérebro, rins e até mesmo os olhos. Assim, se a associação entre a pressão alta, acima de 14 por 9, e o risco de enfarte já é bem compreendida por muitos pacientes, nem sempre fica claro que o problema pode levar também à cegueira e provocar quadros de demência ou falência renal.
No cérebro, a pressão alta causa lesões que vão destruindo os neurônios. “O sangue fornece o oxigênio essencial para o funcionamento do cérebro e a diminuição do fluxo pode causar a demência vascular, que é a segunda forma mais comum de demência”, explica o cardiologista Marcus Bolivar Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Os olhos também podem ser severamente prejudicados em pacientes hipertensos. “As artérias que irrigam a retina podem sofrer alterações em decorrência da hipertensão crônica. Com o passar do tempo, ou em casos de elevação repentina da pressão arterial, podem ocorrer hemorragias, com perda da acuidade visual e até mesmo cegueira”, complementa Malachias.
Já as artérias renais, quando afetadas pela pressão alta, podem levar a uma perda progressiva da função excretora do órgão. “Conforme os vasos renais são danificados, surgem alterações na capacidade de excretar o excedente do que deveria ser eliminado. Por outro lado, se os rins não eliminarem o excedente, este pode contribuir ainda mais para o aumento da pressão”, esclarece o cardiologista.
A hipertensão, em geral, obriga o coração a trabalhar em constante sobrecarga, o que conduz a um espessamento de suas paredes em grande parte dos pacientes. “A hipertrofia ventricular, como é conhecida essa alteração, aumenta o risco da ocorrência de um enfarte ou de insuficiência cardíaca”, ressalta Malachias. O grande problema, enfatiza o médico, é que poucos hipertensos tratam a doença adequadamente. “Dos 40 milhões de hipertensos brasileiros, apenas 19,6% controlam a pressão e 80% estão sujeitos às complicações decorrentes da doença”, destaca.
Hereditariedade, excesso de peso, consumo exagerado de sal, tabagismo e sedentarismo estão entre os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da hipertensão. No Brasil, em que a maioria da população está acima do peso, segundo o Ministério da Saúde, a situação é preocupante. “Além disso, se o indivíduo tem o pai hipertenso, ele tem 30% mais probabilidade de desenvolver a doença e, se a mãe também for, a possibilidade dobra, ou seja, o risco de que ele venha a ter pressão alta é de 60%”, diz o cardiologista.
As complicações decorrentes da hipertensão tomam proporções importantes em um país como o Brasil, em que mais de 30% da população adulta, com 18 anos ou mais, apresenta o problema, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Esse número chega a 50% em pessoas acima de 50 anos, de acordo com os dados mais recentes da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde.
Felizmente, a hipertensão é um quadro de fácil diagnóstico. “Basta uma medida simples da pressão, que deve ser feita em qualquer consulta de rotina, ou até mesmo por aparelhos digitais, que são muito comuns na atualidade”, afirma Malachias. “Quanto antes o paciente se conscientizar da necessidade de adesão ao tratamento, mudança de hábitos, e alimentação saudável, à base de hortaliças, verduras, com pouco sal, maiores são suas chances de proteção e qualidade de vida”, conclui.
Entre as opções de terapias medicamentosas encontra-se a olmesartana medoxomila (por exemplo, Olmetec), que faz parte de uma classe de medicamentos chamada Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina II (BRA). Por meio dele, a adesão do paciente ao tratamento é facilitada, já que sua administração é feita com uma única dose ao dia.
VIA:DIARIONE