domingo, 19 de abril de 2015

BRASIL 2015 - VENENO - Com baixa produção e valor elevado dos orgânicos, Brasil ainda é 'reféns dos agrotóxicos'


O acesso dos brasileiros a alimentos sem venenos ainda está longe de ser realidade, pelas dificuldades enfrentadas pelos produtores de orgânicos – sem o uso de agrotóxicos ou insumos químicos. Em 20 de março, a presidente Dilma Rousseff participou da abertura da colheita de arroz orgânico no Rio Grande do Sul. No início deste mês, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomendou o consumo de alimentos livres de agrotóxicos como maneira de diminuir o número de casos da doença.
 A presença desses produtos nas gôndolas, porém, ainda é escassa e cara, embora o mercado de orgânicos no Brasil cresça entre 20% e 40% a cada ano, em média, de acordo com números de diferentes organizações. Frutas e hortaliças são mais facilmente encontradas em feiras orgânicas, ainda que o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) tenha identificado apenas 290 feiras orgânicas nos mais de 5 mil municípios do país. Nas grandes lavouras de arroz, feijão, milho e soja, a presença de cultivos orgânicos é quase inexistente. No caso da soja, o mercado é amplamente dominado pelas variedades transgênicas, que se tornaram o padrão do mercado – elas responderam por 91% da produção brasileira da oleaginosa na última safra. 

De acordo com o Inca, os produtos obtidos da maneira convencional, com uso intensivo de venenos, são causadores de uma série de graves problemas de saúde. Entre eles, infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.

Especialistas em agroecologia asseguram que é possível substituir progressivamente lavouras convencionais por orgânicas, como sugere o Inca. Os produtores orgânicos, no entanto, encontram uma série de entraves para fazer a produção chegar ao prato do brasileiro. Elas vão desde a falta de tecnologia apropriada até a inexistência de programas de comercialização, o que também ajuda a tornar esse tipo de produto mais caro do que o convencional, embora a diferença venha caindo nos últimos anos.

“Desde que o transgênico emplacou no Brasil, tivemos muitas dificuldades”, diz Marcio Challiol, gerente agrícola da empresa Gebana, de Capanema (PR), dedicada ao mercado de orgânicos. “Não há oferta de sementes para cultivo e são necessários enormes cuidados, desde a colheita até a entrega do produto. Muita gente saiu do mercado por contaminação com transgênico e por agroquímico”, completa.

Contaminação 
“Nós, aqui no Brasil, estamos desde 2008 na liderança como os maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Isso por conta do modelo adotado pelo país, do agronegócio. O Brasil se coloca no cenário mundial como exportador de matérias primas básicas, sem nenhum valor agregado, como é o caso da soja, do milho e da cana. São produtos que ocupam a maior parte da área agricultável brasileira, à medida em que a superfície para alimentos básicos vem diminuindo”, destacou o ativista Alan Tygel.

Segundo ele, o país é campeão no uso de agrotóxicos, com consumo per capita de 5,2 litros por habitante ao ano. “Mas isso não é dividido de forma igual. Se pegarmos municípios do Mato Grosso, por exemplo, como Lucas do Rio Verde, lá se consome 120 litros de agrotóxicos por habitante”, alertou Tygel. Os ambientalistas querem o fim da pulverização aérea - medida já praticamente banida em toda Europa -, o fim da comercialização de princípios ativos proibidos em outros países e o fim da isenção fiscal para os agrotóxicos.
“Uma das nossas bandeiras é o fim da pulverização aérea, pois uma pequena parte do agrotóxico cai na planta, e a grande parte cai no solo, na água e nas comunidades que moram no entorno. Temos populações indígenas pulverizadas por agrotóxicos, que desenvolveram uma série de doenças, desde coceiras e tonteiras até câncer e depressão, levando ao suicídio e à má formação fetal”, enfatizou Tygel.
VIA:AGENCIABRASIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário