sexta-feira, 20 de setembro de 2013

BRASIL - Mais da metade de usuários de crack com menos de 18 anos está no NE

O estudo feito pela Fiocruz indica que 28 mil das 50 mil crianças e adolescentes que usam crack são do Nordeste

São Paulo. As capitais do Nordeste são as que somam a maior quantidade de crianças e adolescentes consumidoras de crack e/ou similares no Brasil. O número corresponde a cerca de 28 mil indivíduos na região. Isso representa 56% do total estimado em 50 mil menores de 18 anos que utilizam a droga no País.

Os dados alarmantes são de pesquisa divulgada ontem pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo o estudo, nas capitais do Sul e Norte, esse número é de aproximadamente três mil menores de idade, em cada uma dessas regiões.

Dentre o total de 370 mil usuários de crack e/ou similares estimados em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal pela Fiocruz, cerca de 14% são menores de idade que fazem uso dessa substância. "É um dado preocupante, principalmente quando levamos em conta o fato de que a faixa de 18 anos incluiu grupos que não consomem a droga, como bebês menores de um ano", afirmou o coordenador do trabalho, o pesquisador Francisco Inácio Bastos.

O levantamento foi feito com base em dados coletados em 2012 com 25 mil residentes nas capitais brasileiras.

As pessoas foram visitadas em suas casas e responderam a perguntas sobre suas redes sociais. De acordo com a Fiocruz, esse é o maior e mais completo levantamento feito sobre crack no mundo. O trabalho foi encomendado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça.

Todas as idades
O crack é usado por 35% dos consumidores de drogas ilícitas nas capitais do Brasil, indica a pesquisa. A maior parte do total de usuários está concentrada na Região Nordeste.

Dos 370 mil consumidores regulares de crack ou similares (merla, pasta-base e oxi) estimados nas capitais do País, em todas as faixas etárias, 148 mil encontram-se na região nordestina. Isso significa que 43% do total da população que usa drogas ilícitas nas capitais do Nordeste consome crack.

O percentual só é menor que o das capitais da região Sul. Lá 52% das 72 mil pessoas que usam regularmente drogas ilícitas consomem crack (37 mil pessoas). Depois do Nordeste, em números absolutos o maior número de usuários de crack está nas capitais do Sudeste. A região reúne 113 mil consumidores regulares da droga, seguido pelo Centro-Oeste (51 mil), Sul (37 mil) e a região Norte (33 mil).

Os dados dizem respeito a usuários regulares, que consumiram a droga ao longo de pelo menos 25 dias, nos seis meses anteriores ao levantamento.

Pesquisadores da Fiocruz analisaram ainda o perfil dos usuários do crack nas capitais, nas regiões metropolitanas e em cidades de pequeno e médio porte de forma a retratar um cenário similar para o País.

O trabalho mostra que a grande maioria da população que usa regularmente é de não brancos (80%), solteira (60,6%) e do sexo masculino (78%) e que por algum momento já esteve na escola (só 5% dos ouvidos não completaram um ano de estudo).

Para o coordenador do levantamento, um dos indicadores que mais chamam a atenção é o uso concomitante com outras drogas, incluindo as lícitas, como cigarro e álcool.

"São fatores que contribuem de forma significativa para a piora das condições de saúde e indicam a necessidade de um manejo integrado", avaliou Bastos.

Estudo
O estudo elaborado pela Fiocruz aponta que, além da curiosidade, há outros fatores que são determinantes para o início do consumo do crack. Entre eles, a pressão de amigos, que é citada por 26,7% dos usuários, e problemas familiares ou perdas afetivas (29,2%).

A pesquisa da Fiocruz mostra que o tempo médio de uso dessas drogas é mais longo nas capitais, onde dura em média oito anos. Nas demais cidades, se estende por aproximadamente cinco anos. Esse dado sugere “que o uso da droga vem se interiorizando mais recentemente”.

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